segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

O aniversário de SP e a revisão da história

O aniversário de SP e a revisão da história

Editorial - No dia em que completou 457 anos, S. Paulo parece ter se dado conta da necessidade da revisão de sua própria história, a começar, pela mudança do significado de palavras como “bandeirantes”, “bandeiras”, e a rever o papel histórico de certos personagens, cuja aura de heroísmo, só se sustenta em séculos de lavagem cerebral e na ignorância da história.Assim, personagens como os bandeirantes Raposo Tavares (que dá nome a uma das mais importantes rodovias paulistas), Fernão Dias (o caçador das esmeraldas) e Domingos Jorge Velho (o comandante da expedição mercenária que devastou o Quilombo dos Palmares, em 1.695, e assassinou o líder Zumbi), começam a perder a fama de heróis indomáveis, desbravadores dos sertões.
Seus nomes passaram a estar associados à violência, a assassinatos com requintes de crueldade, e à escravização e a morte das populações indígenas, que habitavam o Planalto nos séculos XVI e XVII e XVIII.
A escravização, a morte de indígenas e negros caçados ("preados', como se dizia) nas matas era o padrão nada edificante desses personagens, sobre os quais se ensina nos bancos escolares serem responsáveis por grandes feitos. De acordo com o relato de jesuítas “na longa caminhada até S. Paulo, chegam a cortar braços de uns [índios] para com eles açoitarem os outros”. E mais: “matam os velhos e crianças que não conseguem caminhar, dando de comida aos cachorros”.
Historiadores passam a lembrar que o mito dos bandeirantes paulistas – assim como o mito da democracia racial – são obra e produto de séculos de propaganda, lavagem cerebral mesmo, puro marketing. A imagem heróica serviu para a ascenção dos cafeicultores paulistas à elite econômica brasileira no final do século XIX. Não por acaso, a sede do Governo paulista chama-se Palácio dos Bandeirantes.
"A partir de 1903, essa orientação foi incorporada à política e o governo estadual passou a bancar obras de arte que apoiassem essa aura mítica. Com o passar dos anos, o mito foi sendo incorporado a outros grupos, que queriam se associar a essa imagem de coragem. Entram aí os constitucionalistas de 1.932, o governo Vargas e até a ditadura militar", relatam Ricardo Mioto, SabineRighetti e Giuliana Miranda, em artigo para o Jornal Folha de S. Paulo, na edição comemorativa do aniversário.
O líder indígena Marcos Terena, em seu blog, lembra que “as Entradas e Bandeiras que aprendemos nas escolas primárias como heróis, foram exércitos de malfeitores que invadiram terras indígenas e destruíram vários povos”.  S. Paulo conta ainda hoje com cerca de 50 mil indígenas – de cerca de 30 nações diferentes – espalhados na região metropolitana, de acordo com levantamento da ONG Opção Brasil, para a Agenda Indígena, da Comissão Intersecretarial de Monitoramento e Gestão da Diversidade (CIM-Diversidade), da Secretaria do Trabalho de S. Paulo, em 2007.
Com números mais conservadores, o IBGE admite a existência de cerca de 35 mil indígenas vivendo na Grande S. Paulo, 25 mil apenas na capital paulista.
Um outro dado que não deixa de ser muito revelador é que, embora seja a cidade com maior população negra do mundo fora da África (é superada apenas pelas cidades de Lagos, na Nigéria, e Cairo, no Egito), com cerca de 3,7 milhões de afro-brasileiros (a população negra corresponde a 30,3% dos 11,2 milhões de habitantes, segundo a Fundação Seade), os negros são os sem espaço.
Na Edição especial SP-457 anos da Folha, o jornal destaca o peso da presença de alemães, italianos, japoneses, nordestinos, judeus, chineses, coreanos, inclusive, destacando os bairros com presença majoritária dessas comunidades. Não há uma única menção a presença negra, nem onde residem os afro-brasileiros.
Neste caso, seria fácil: bastaria percorrer a periferia da cidade, as favelas mais afastadas. Lá estão os quase 4 milhões de afro-brasileiros da cidade, submetidos à condições de desemprego, moradias precárias, à mercê das intempéries e das enxurradas, da violência da polícia, e sobrevivendo com bicos, na informalidade, ocupando o espaço da sub-cidadania.
São Paulo, 25/1/2011
Dojival Vieira - Jornalista Responsável
FONTE: http://www.afrodescendente.com.br

domingo, 23 de janeiro de 2011

CONSTRUÇÃO POÉTICA

POEMA AUDIOVISUAL

DESCONSTRUÇÃO POÉTICA

POESIA AUDIOVISUAL

BERTOLD BRECHT




Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro
Em seguida levaram alguns operários

Mas não me importei com isso
Eu também não era operário
Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso

Porque eu não sou miserável
Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei

Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo.

Bertold Brecht