domingo, 18 de abril de 2010

ZE LANDIM E O FESTIVAL DE VIOLA


GOVERNO FEDERAL / MINISTÉRIO DA CULTURA PREMIA PROJETO FESTIVAL DE VIOLA PARA ENCONTRO DE GERAÇÕES JUVENTUDE E MESTRES VIOLEIROS EM NOVA VENÉCIA - ES.
A Juventude e os Mestres Violeiros de Nova Venécia - ES serão homenageados com o Projeto FESTIVAL DE VIOLA. Uma iniciativa dos Violeiros Zé Landim (Mestre) e Rodrigo (Aprendiz), que juntos beneficiarão os jovens interessados neste gênero musical popular.
Através de Oficina de Iniciação Musical em Viola ocorrerá a troca de experiência e será uma oportunidade para o registro histórico da memória musical das gerações tradicionais da Moda de Viola.
Além de promover um encontro de gerações, será promovida a difusão dos talentos através de um encontro não competitivo para reconhecimento dos talentos e aprimoramento de Mestres e Jovens Violeiros.
O Projeto FESTIVAL DE VIOLA objetiva incentivar a implementação de políticas públicas para a juventude em vulnerabilidade social, através de ações de formação continuada para desenvolvimento local. Além de uma oportunidade para a juventude descentralizar a política de fomento da produção sociocultural e artística, possibilitando que artistas, grupos artísticos e produtores tenham incentivos para a realização de seus projetos na Região do Semiárido Capixaba.
O Projeto FESTIVAL DE VIOLA foi premiado nacionalmente pelo GOVERNO FEDERAL / MINISTÉRIO DA CULTURA através do EDITAL PROGRAMA MAIS CULTURA DE APOIO A MICROPROJETOS CULTURAIS, (Regulamentado pelo Decreto nº 6.226, de 04 / 10 / 2007), promovido através da SECRETARIA DE ARTICULAÇÃO INSTITUCIONAL - SAI, Fundação Nacional de Artes – FUNARTE, Programa Mais Cultura, BANCO DO NORDESTE, Instituto Nordeste e Cidadania, SECULT-ES, para os municípios integrantes da REGIÃO DO SEMIÁRIDO CAPIXABA.
As Oficinas serão gratuitas a jovens de 17 a 29 anos, que desejarem trocar experiências com a linguagem da Moda de Viola. O projeto será implantado através de parcerias estratégicas com órgãos públicos, empresas e comunidades organizadas. Em breve com a conclusão das atividades iniciais, serão abertas inscrições para a juventude, com divulgação dos dias, horários e locais. Mais Informações através do Tel.: (27) 9899-8042. (27) 9951-9050. Assistência de Produção e Intercâmbio: Armando Mecenas. ASPROD/02

sábado, 10 de abril de 2010

“Porque falar em Faxina Étnica”


O racismo é uma prática social com efeitos perversos na vida de bilhões de seres humanos espalhados pelos cinco continentes do planeta (sejam povos originários, afro-descendentes, árabes, ciganos, judeus, orientais etc). A prática do racismo é estrutural e apoiada pelo estado e por seu aparelhos ideológicos (meios de comunicação, igreja, escola etc) no sistema social e político capitalista. O racismo brasileiro tem uma face institucional e militar: a faxina étnica. Esta política de faxina étnica define – para negros, “pardos”, “morenos” e “mulatos” – quais são os territórios em que podem viver e a forma como devem viver. Favelas, periferias, subúrbios e alagados não fenômenos que revelam, no território urbano, a unidade entre capitalismo e racismo, entre classe e raça.
O processo de racialização do espaço urbano foi (e ainda é) extremamente violento e complexo. Como primeiro fator, temos a política de extermínio e genocídio que nomeamos de extermínio direto e extermínio indireto. O extermínio direto é materializado nas ações do estado contra moradores destes territórios. É uma violência estatal e não social como a provocada pelo tráfico de drogas. Já, o extermínio indireto ocorre através da morte lenta nas filas dos hospitais por falta de socorro e tratamento adequado, nas enchentes e tragédias naturais causadas pela omissão do estado e da defesa civil, os surtos de dengue e outras enfermidades que incidem majoritariamente na população negra e pobre.
Ambas as formas de extermínio (direto e indireto) tem como base esteriótipos racistas que se reproduzem através destas ações. Quando a polícia do estado assassina um morador de uma favela – ao invés de protegê-lo – diz-se que se tratava de um “marginal” (que é representado como um descartável, ou seja, um elemento anti-social sem condições de ser reintegrado a vida em sociedade). O suspeito-padrão da polícia é negro, “moreno”, “pardo” e “mulato”: não importa como esteja vestido, onde esteja e o seu comportamento – apenas pela cor de sua pele – já é considerado suspeito. Quando não o matam, o constrangem (através da violentas batidas policiais) que tem o objetivo de mostrar ao negro “qual é o seu lugar”.
Por outro lado, as imagens reproduzidas pelos jornais e televisão das filas dos hospitais, dos que morrem por falta de tratamento e atenção, dos que têm suas vidas, móveis e casas totalmente perdidos por catrástofes naturais etc, não causam nenhum tipo de indignação: são naturalizadas. Naturalizar é afirmar que estas tragédias tratam-se de fenômenos que não podem ser impedidos pela ação humana. Estas imagens são relacionadas à tragédia que segue há mais de cinco séculos os afro-descendentes, tomados por uma “coletividade amaldiçoada” que não consegue superar seus problemas por seus próprios esforços.
Por fim, associam-se os territórios de maioria negra à tragédia e a violência como elemento naturais e reeditam o racismo biológico que estabele a relação direta entre cor da pele e comportamento social. O racismo transforma, desta maneira, os problemas sociais e raciais dos moradores das favelas, periferias, subúbios, alagados e bairros pobres – de maioria negra – em problemas de ordem moral, psicológica e biológica. Para comprovar sua tese, o estado burguês e racista tem a necessidade de encarcerar os negros e pobres, ou seja, mostrar ao conjunto da sociedade que, de fato, são elementos perigosos e, por conseqüência, é necessário pôr sobre controle e vigilância permanente os territórios de maioria negra.
Como segunda manifestação da faxina étnica, apontamos o encarceramento em massa da população afro-descendente (em enorme desproporção se comparadas a população branca). As cadeias brasileiras parecem-se enormes navios negreiros, depósitos de carne humana em que se inscreve na pele negra sua associação necessária com o crime. É impossível fugir ao estigma da raça: a prisão é a instituição consagrada para controlar a pressão social e racial do proletariado urbano e rural. Logo, se associa o criminoso ao seu lugar de origem: ele vive na favela, tem amigos na favela, se comporta como um favelado etc. Raça, território e criminalidade confundem-se em uma coisa só: se é negro e favelado, necessariamente é criminoso. Com isso, o encarceramento contribui para definir os territórios negros urbanos: trata-se de uma malha de ruas, casas e barracos que unem negros “marginais” ou em processo de “marginalização”.
Como terceira manifestação da faxina étnica, apontamos as políticas de remoção e despejo. Se uma coletividade negra vive, de forma precária, em uma área valorizada pela especulação imobiliária ou de um novo empreendimento imobiliário, o estado age de forma violenta para expulsá-la deste território. Com isso, empurram os negros para longe do centro e dos bairros nobres, de maioria branca, em que só podem visitar na condição de empregados domésticos ou prestadores de serviço.
Estamos convencidos que, nos dias atuais, de desindustrialização da economia e recolonização do pensamento social brasileiro, em que o imperialismo penetra com mais força e violência em nossa sociedade, o racismo – fenômeno associado a ordem social burguesa – manifesta-se com toda sua intensidade no território urbano.
Para a vanguarda social combativa do movimento negro, dos movimentos populares e forças progressistas, contribuir para politizar o conceito de território negro urbano: ele pode ser uma ferramenta poderosa de afirmação dos afro-descendentes que vivem nestas áreas com o objetivo de fazer um contraponto as representações racistas que associam o território em que vivem à criminalidade, ao vício e a ausência de produção artística e cultural.
Por tudo isso é necessário falar em faxina étnica. Denunciá-la e combatê-la é dever de todos os que se identificam com o povo negro e suas aspirações de liberdade e reconhecimento coletivo. Para nos contrapormos a este processo de faxina étnica é necessário um conjunto de políticas públicas que tenham como marco uma cidade racialmente mais justa e integrada. Enquanto, nos centros urbanos de nosso país, pequenas faixas do território urbano, de maioria branca ou totalmente branca, monopolizarem os equipamentos públicos (melhores escolas, hospitais, centros de comércio, lazer, recreação, produção e difusão cultural) em detrimento da enorme massa negra desasistida e esparramada em territórios em que o único equipamento público é uma unidade da polícia, estaremos muito longe de solucionar este problema.
Autores: Gilberto Batista Campos e Marco André.

A RODA DO SOL

É a velha roda do Sol e o sacrifício propiciatório se dirige ao Rei Sol, da mesma forma que sacrifícios humanos e de animais eram oferecidos para a fertilidade da terra. A roda do Sol é uma idéia arcaica, talvez a idéia religiosa mais velha de que se tenha conhecimento. Podemos atribuí-la às era mesolítica e paleolítica, como o provam esculturas da Rodésia. A roda realmente só apareceu na idade do bronze; no paleolítico ainda não fora inventada. A roda do Sol rodesiana parece ser contemporânea de pintura de animais muito naturalísticos, tais como o famoso rinoceronte e os caracaraís, obra-prima de observação. A roda do Sol rodesiana é, portanto, uma visão original, provavelmente a imagem solar arquetípica. Mas tal imagem não é natulaística, pois se encontra sempre dividida em quatro ou oito partes.
Essa esfera de centro dividido é um símbolo que pode ser encontrado ao longo de toda a história da humanidade, bem como nos sonhos dos indivíduos que vivem no mundo atual. Podemos presumir que a invenção da roda originou-se mesmo nesta visão. Muitos de nossos inventos se originam de antecipações mitológicas e de imagens primordiais. A arte da alquimia é a mãe da química moderna. Nossa mentalidade científica partiu da matriz de nossa mente inconsciente.
O homem sobre a roda é a repetição do motivo mitológico grego de Íxion, que por causa de suas ofensas aos homens e aos deuses, fora por Zeus amarrado numa roda que girava sem cessar.
C.G. JUNG proferiu em 1935 na Conferência em Londres (Fundamentos de Psicologia Analítica. 2008 Editora Vozes. 14ª edição. p.34 e 35)